A vida não é assim tão séria
Quando o grego Tassos veio ter aulas comigo, ele já falava um pouco de português. O que ele queria era ser carioca. E assim eram as nossas aulas sábado pela manhã. Sempre me surpreendia como ele colocava na prática todas as coisas que ele aprendia até que ele começou a me ensinar sobre o Rio.
Ele sempre trabalhava muito, mas nunca o vi estressado. Ele dizia que as pessoas levavam a vida muito a sério e a vida não era para ser assim. Ser profissional não significa que a vida precisa ser encarada com tanta seriedade. Eu acompanhava os resultados dele no trabalho e o seu progresso com sua meta de ser carioca. Mas mesmo assim, não entendia o que ele queria dizer com “não levar a vida tão a sério”.
Nas vésperas dos jogos olímpicos, alguns eventos testes tinham a cobertura da mídia. Ele estava trabalhando na arena aquática e, durante o evento, faltou luz. A plateia estava lotada e todos os atletas e a equipe estavam lá. Eles podiam contar com qualquer tipo de problema técnico, agora, faltar luz, algo tão básico? No dia seguinte imaginei que ele estivesse tenso com isso e ele me surpreendeu com um enorme sorriso.
Ele disse:
“Você sempre tentou me explicar o que é ser carioca e agora mais do que nunca faz sentido para mim. Faltou luz ontem. O que você espera da atitude de um diretor nesse caso? O diretor era brasileiro e, com muito bom humor, ele deixou toda a equipe tranquila para que todos dessem o seu melhor.”
“Se isso ocorresse durante as olimpíadas de Londres toda a plateia iria embora ou no mínimo iria vaiar. O que deixaria a equipe técnica em um grande clima de tensão. A plateia ficou toda calma, esperando a luz voltar e depois aplaudiu. Todos nós nos sentimos vitoriosos.”
Obrigada, Tassos, por me mostrar que a vida pode ser muito mais eficiente se não for levada tão a sério.