Pontualidade

Construindo a cidade olímpica no país do jeitinho

Era uma segunda-feira de manhã, quando o inglês João, como ele gosta de ser chamado, chegou à aula extremamente irritado com o Brasil, o que foi uma surpresa para mim. Ele trabalhava para o comitê olímpico, que estava construindo a cidade Olímpica para hospedar os jogos Olímpicos Rio 2016. No dia a dia de seu trabalho, ele tinha problemas frequentes com a falta de estrutura, burocracias e a falta de prazo, mas ele sempre entendia tudo e, por gostar muito do Brasil e dos brasileiros, sempre mantinha o bom humor.

Ele me falou, inconformado, que eles estavam recebendo a delegação inglesa; e toda a equipe nacional e a internacional deveriam se encontrar em Niterói no sábado de manhã. Os ingleses, que eram os diretores, chegaram pontualmente e os brasileiros chegaram quase uma hora atrasados.

Para João, quando a questão era somente dele com o Brasil, ele conseguia suportar, mas quando envolvia a equipe inglesa, o problema era muito mais sério. Niterói é uma cidade próxima ao Rio, à qual é possível chegar de barca ou por uma ponte que está frequentemente engarrafada. Os cariocas raramente vão para essa cidade e, apesar de ser vizinha, eles têm a impressão de ser muito longe.

Eu perguntei para ele se a equipe de brasileiros sabia que precisava estar pontualmente no sábado de manhã em Niterói. Ele me olhou com uma cara de espanto e perguntou: “Claro. Por que você está me perguntando isso?” Eu perguntei se ele havia verbalizado para a equipe a importância da pontualidade. Ele falou: “Claro que não. Isso é algo óbvio, não precisa ser falado.”

O fato é que, muitas vezes, a pontualidade não é entendida como necessária em alguns casos brasileiros. Afinal, atrasos são frequentes em muitas instâncias diferentes. Cariocas muitas vezes dizem chegar “pontualmente 30 minutos atrasados”. Isso acontece por saberem que, se chegarem antes, vão ter que esperar. E isso é repetido de várias formas diferentes. Eu, pessoalmente, acredito que isso é um sério problema para o Brasil. E espero que cada vez mais estrangeiros trabalhem no Brasil para fazer com que as estruturas funcionem com pontualidade. Mas o objetivo agora não é mudar o sistema, isso é um pouco mais lento, a questão agora é ter sucesso em sua rotina de trabalho.

Se tratando de diferentes culturas, sempre o que é óbvio e claro para um pode não ser para o outro. Então eu sugeri duas coisas para o João.

Deixar extremamente claro para a equipe tudo o que é importante inclusive o fato da pontualidade. E dizer o porquê de ser importante. Depois entender com a equipe se isso de fato ficou claro. O brasileiro tem o costume de falar que entende, mesmo quando não entende.

Mas mesmo assim pode ser que haja algum atraso, afinal a equipe estava indo para um lugar distante que eles normalmente não costumam ir. E o tempo para brasileiros é um pouco diferente e ainda os transportes públicos que não são tão eficientes. Então, a outra sugestão foi marcar 30 minutos mais cedo com a equipe brasileira e 30 minutos mais tarde com a equipe inglesa.

E você como lidaria com essa situação? Que dica daria para o João?

 

Marcelle, Brasileira, é fundadora da escola Fala Brasil, que oferece um modelo inovador de ensino embasado nas necessidades individuais do estrangeiro para se estabelecer no Brasil, e faz parte de um movimento crescente a favor de empresas mais sustentáveis e socialmente responsáveis. Ela acredita que um mundo melhor começa com a forma de se fazer negócios e na troca entre diferentes culturas.